Nova terapia com células-tronco e bioengenharia tecidual oferece esperança para pacientes com isquemia crítica de membros

A isquemia crítica de membros é uma condição que pode levar à amputação devido à obstrução dos vasos sanguíneos. Pesquisadores desenvolveram uma inovadora terapia, envolvendo bioengenharia tecidual com células-tronco, que promete transformar o tratamento dessa doença, oferecendo uma nova esperança para os pacientes. 

A isquemia crítica de membros (ICM) é uma condição devastadora caracterizada pela obstrução progressiva dos vasos sanguíneos, resultando em uma significativa redução do fluxo sanguíneo para os membros inferiores. Essa condição pode levar à dor intensa, úlceras e, em casos graves, à necessidade de amputação. Sua causa mais comum é a aterosclerose, a qual consiste no depósito de placas de gordura que provocam obstrução ou “entopem” as artérias. 

Os principais fatores de risco para a ICM são: diabete (em particular não controlada), tabagismo, alto nível de gordura no sangue (colesterol ou triglicerídeos), tensão arterial alta (hipertensão – valores de pressão arterial superiores a 140/90), idade (acima dos 50 anos há maior risco), história familiar de doença cardíaca ou vascular, falta de exercício físico.

Atualmente, o tratamento primário para ICM é a revascularização cirúrgica; no entanto, até 40% dos pacientes acabam necessitando de amputação. Diante desse cenário, a busca por terapias alternativas eficazes é urgente, e a terapia com células-tronco emerge como uma solução promissora.

Recentemente, pesquisadores liderados pelo Dr. Sangheon Kim do Centro de Pesquisa em Biomateriais do Instituto de Ciência e Tecnologia da Coreia (KIST) desenvolveram uma nova abordagem utilizando um gel de colágeno microfragmentado (CMG) como plataforma de entrega de células-tronco para o tratamento de ICM. Este gel, composto por colágeno e ácido hialurônico, é capaz de formar microestruturas tridimensionais (3D) que melhoram a sobrevivência celular e promovem a angiogênese – processo de formação de novos vasos sanguíneos.

A incubação de CMG com células-tronco derivadas de tecido adiposo humano (hASCs) resultou na formação de estruturas tridimensionais injetáveis (CMG-hASCs) com uma microarquitetura porosa que facilita a transferência de massa e a viabilidade celular a longo prazo. Estudos demonstraram que CMG-hASCs exibem maior sobrevivência celular e potencial angiogênico em ensaios de formação de tubos e angiogênese em anéis aórticos do que agregados celulares.

Em experimentos com modelos animais, a injeção de CMG-hASCs no tecido muscular de camundongos com ICM resultou em um aumento significativo da perfusão sanguínea e na taxa de preservação dos membros em comparação com outros métodos de tratamento. Especificamente, a perfusão sanguínea aumentou em 40% e a preservação dos membros em 60% em comparação com o tratamento com agregados celulares.

Além disso, a análise imunofluorescente revelou que os CMG-hASCs transplantados apresentavam maior potencial regenerativo muscular e angiogênico, com uma sobrevivência celular aprimorada em relação aos agregados celulares. Coletivamente, esses resultados sugerem que a combinação de CMG com hASCs representa uma abordagem terapêutica promissora para o tratamento de ICM, oferecendo uma nova esperança para a prevenção de amputações em pacientes com essa condição debilitante.

Em conclusão, a terapia com células-tronco utilizando um gel de colágeno microfragmentado mostra-se uma alternativa inovadora e eficaz para o tratamento da isquemia crítica de membros. Com o potencial de melhorar significativamente a sobrevivência celular e promover a formação de novos vasos sanguíneos, esta abordagem pode transformar o tratamento de ICM, oferecendo uma nova esperança para pacientes que enfrentam a possibilidade de amputação. Além disso, devido ao seu excelente efeito angiogênico, essa terapia pode ser estendida para outras doenças que envolvem mecanismos semelhantes à doença arterial periférica.

O microgel de colágeno desenvolvido neste estudo é um novo biomaterial com excelente biocompatibilidade e alto potencial para aplicações clínicas. Os próximos passos consistem no desenvolvimento de tecnologias para métodos de administração necessários na área médica, bem como na condução de pesquisas de acompanhamento para esclarecer o mecanismo de ação do tratamento e descoberta de fatores-alvo.

Referências:

Artigo comentando sobre o estudo citado: Developing a stem cell therapy to prevent amputations from critical limb ischemia 

Artigo citado: A micro-fragmented collagen gel as a cell-assembling platform for critical limb ischemia repair 

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