O surgimento de uma nova tecnologia para combater doenças autoimunes: células-tronco mesenquimais combinadas aos receptores quiméricos de antígenos – as CAR-CTMs

Uma pesquisa revolucionária realizada na Mayo Clinic, nos Estados Unidos, marca um avanço significativo na medicina regenerativa e terapia celular, com foco no tratamento de doenças autoimunes. Esta técnica inovadora combina células-tronco mesenquimais (CTMs) com receptores antigênicos quiméricos (CAR), criando CAR-CTMs, que demonstram maior eficiência em alvejar e suprimir respostas imunes exacerbadas em doenças autoimunes. Esses achados iniciais sugerem um enorme potencial para futuras aplicações, prometendo tratamentos mais eficazes e personalizados para uma variedade de doenças autoimunes.

A medicina regenerativa e a terapia celular têm se desenvolvido rapidamente, abrindo caminhos para tratamentos de doenças anteriormente intransponíveis. Uma inovação notável neste campo é a aplicação de células-tronco mesenquimais (CTMs) em técnicas de imunoterapia para doenças autoimunes.

Contudo, apesar de as CTMs serem conhecidas por seu papel em modular o sistema imunológico e controlar inflamações, caso a resposta imune contra o próprio organismo seja muito exacerbada, como pode acontecer em algumas doenças autoimunes, o tratamento somente com as CTMs pode não ser suficiente. 

Neste contexto, pesquisadores da renomada Mayo Clinic, nos Estados Unidos, têm liderado um avanço interessante. Eles desenvolveram uma técnica de imunoterapia potencialmente revolucionária para tratar uma ampla gama de doenças autoimunes. Essa técnica envolve a combinação de receptores antigênicos quiméricos (CAR) – os mesmos da terapia CAR-T – com CTMs, resultando em células-tronco modificadas denominadas CAR-CTMs ou CAR-MSCs (do inglês, mesenchymal stem cells). Este avanço é significativo, considerando a habilidade única das CTMs de se transformarem em vários tipos de células, como células ósseas, de cartilagem e adiposas, e sua função no controle da inflamação e na promoção da tolerância imunológica.

Os CARs são ferramentas moleculares desenhadas para reconhecer marcadores específicos de doenças. Eles possuem três funções essenciais: mirar e se ligar a marcadores específicos em células doentes, agir como uma âncora mantendo a ligação ao alvo e iniciar a sinalização para ativar uma resposta imune robusta. A estratégia terapêutica combinada de CAR-CTMs aborda dois desafios principais: por si só, as CTMs têm dificuldade em acalmar reações imunes fortes em condições autoimunes e em se fixar nas áreas de inflamação. A engenharia dessas células com os CARs mostra potencial em melhorar sua capacidade de mirar células ou marcadores específicos e aumentar seu impacto terapêutico. Este avanço representa um salto significativo na capacidade de tratar condições autoimunes com maior eficácia e de minimizar a necessidade de medicamentos de longo prazo.

Na pesquisa, o Dr. Saad Kenderian e sua equipe desenvolveram CAR-CTMs que visam especificamente uma proteína (E-caderina) associada a doenças como a doença do enxerto contra hospedeiro. Esta doença ocorre quando células de um doador atacam os tecidos do receptor, geralmente após um transplante de medula óssea ou células-tronco. Nos modelos com camundongos, as CAR-CTMs, ao serem estimuladas pela proteína alvo, mostraram melhor capacidade de ir até áreas inflamadas, controlar a inflamação e melhorar a sobrevivência. Embora ainda estejamos nos estágios iniciais, esses achados preparam o terreno para futuras aplicações dessa tecnologia, abrindo caminho para aumentar a versatilidade da terapia no espectro de doenças autoimunes. As possibilidades são amplas, desde doenças inflamatórias intestinais, como a doença de Crohn e colite ulcerativa, até condições mais complexas e sistêmicas.

Este avanço é mais do que uma promessa de tratamento, ele representa uma mudança de paradigma na maneira como abordamos as doenças autoimunes. Com o desenvolvimento contínuo desta tecnologia e a expansão de sua aplicabilidade, estamos entrando em uma era onde terapias personalizadas e direcionadas podem se tornar a norma no tratamento dessas doenças. A capacidade de direcionar e modular o sistema imunológico de maneira específica abre novos horizontes na medicina regenerativa e terapia celular, prometendo tratamentos mais eficientes, menos invasivos e com menos efeitos colaterais para pacientes ao redor do mundo.

Referências:

Artigo comentando o estudo: Scientists pioneer immunotherapy technique for autoimmune diseases 

Artigo publicado na revista Nature: Mesenchymal stromal cells with chimaeric antigen receptors for enhanced immunosuppression | Nature Biomedical Engineering 

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