Primeiro rim suíno geneticamente modificado transplantado em um ser humano vivo

Recentemente, tivemos um marco histórico na medicina regenerativa com o transplante de um rim de porco geneticamente modificado em um humano vivo. Este xenotransplante, que visa mitigar a escassez de órgãos, foi realizado com auxílio da tecnologia CRISPR/Cas9 para tornar o órgão mais compatível com o ser humano. Apesar do sucesso inicial, desafios como rejeição, questões éticas e risco de infecção ainda precisam ser superados para que os xenotransplantes se tornem uma prática comum

Em março de 2024, cirurgiões norte-americanos realizaram um marco histórico na medicina regenerativa: o transplante de um rim de porco geneticamente modificado para um ser humano vivo. O transplante de órgãos, células ou tecidos entre espécies diferentes é denominado xenotransplante e oferece uma nova esperança para mitigar a escassez crônica de órgãos, mas ainda estamos longe de resolver completamente essa crise.

O procedimento foi realizado em um paciente com 62 anos, vivo e legalmente competente, que consentiu com o transplante. O rim suíno foi geneticamente modificado com 69 edições para fazer com que seu material genético se tornasse mais semelhante ao material genético humano.

Porcos são considerados candidatos ideais para doação de órgãos devido ao tamanho e função dos seus órgãos, que são semelhantes aos dos humanos. Além disso, a engenharia genética permite modificar os genes dos porcos para reduzir o risco de rejeição.

A tecnologia CRISPR/Cas9, conhecida como “tesoura genética”, foi crucial nesse processo. Ela permite editar genes de forma precisa, cortando e reparando o DNA em locais específicos. No caso do xenotransplante, CRISPR foi usado para editar os genes do porco, inativando genes virais, adicionando genes humanos e eliminando genes prejudiciais.

Apesar do sucesso inicial, vários desafios ainda precisam ser superados antes que os xenotransplantes possam se tornar uma prática comum. Entre eles, destacam-se:

  1. Risco de rejeição: mesmo com modificações genéticas, há sempre o risco de que o sistema imunológico do receptor ataque o órgão transplantado.
  2. Questões éticas: a prática de usar animais para suprir órgãos humanos levanta importantes questões sobre se é ético usar órgãos animais dessa maneira.
  3. Risco de infecção: a possibilidade de transferência de patógenos dos animais para os humanos é uma preocupação significativa.

A edição gênica CRISPR recentemente fez sua estreia na medicina convencional, com a aprovação de uma terapia para a anemia falciforme que usa CRISPR para editar células-tronco da medula óssea do paciente. Embora esta aplicação utilize células do próprio paciente, o princípio subjacente é o mesmo dos xenotransplantes: editar materiais celulares inadequados para torná-los terapeuticamente benéficos.

Embora a xenotransplantação usando CRISPR esteja em seus estágios iniciais e não haja ainda um exemplo de um xenotransplante estável em um humano vivo durando mais de sete meses, a pesquisa contínua e os avanços tecnológicos prometem transformar esses órgãos em produtos viáveis para transplante no futuro.

Em suma, o primeiro transplante de rim suíno para um ser humano vivo representa um marco na medicina regenerativa. Embora ainda existam muitos desafios a serem superados, essa conquista abre novas possibilidades para o futuro dos transplantes de órgãos. Com o avanço contínuo das pesquisas, podemos estar à beira de uma revolução no tratamento de insuficiência renal e outras condições graves que dependem de transplantes de órgãos.

Referências:

Artigo comentando sobre o estudo citado: The first pig kidney has been transplanted into a living person. But we’re still a long way from solving organ shortages 

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