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Células-Tronco do tecido adiposo: uma perspectiva inovadora na medicina regenerativa

Células-Tronco do tecido adiposo: uma perspectiva inovadora na medicina regenerativa

19 de Dezembro de 2023 - Escrito por Yasmin Rana de Miranda

Originárias da gordura ou tecido adiposo, as células-tronco do tecido adiposo (CTAs) possuem a capacidade de se diferenciar em diversos tipos celulares e secretar substâncias benéficas para a reparação de tecidos, cicatrização e regeneração de órgãos. O transplante de CTAs mostra benefícios em aplicações estéticas, regeneração óssea, de cartilagem e até mesmo em casos de lesões na medula óssea. Além disso, essas células estão sendo investigadas como uma possível abordagem para o tratamento de pacientes com COVID-19, aproveitando seu potencial imunomodulador. Em resumo, os tratamentos com CTAs representam uma grande inovação na medicina regenerativa, oferecendo amplas possibilidades terapêuticas para diversas condições médicas e moldando o futuro da medicina.



O tecido adiposo, comumente conhecido como gordura, é uma fonte rica e facilmente acessível de células-tronco mesenquimais. Enquanto muitos de nós costumamos pensar nesse tecido apenas como reserva de energia, as células-tronco contidas nele possuem outras funções: são capazes de se diferenciar em vários tipos de células como adipócitos, condroblastos, osteoblastos, cardiomiócitos, células musculares esqueléticas, neurônios e hepatócitos. Além disso, as células-tronco do tecido adiposo (CTAs) secretam numerosas substâncias capazes de contribuir para a reparação de tecidos, cicatrização de feridas, regeneração de órgãos e modulação da inflamação. Essas características abrem as portas para uma ampla gama de possibilidades terapêuticas. 


O tecido adiposo está distribuído por todo o corpo em diversos tecidos, incluindo a medula óssea, sob a pele (subcutâneo), dentro das articulações (intra-articular), dentro dos músculos (intra-muscular) e ao redor de órgãos internos (tecido adiposo visceral). Porém, a fonte mais comum de tecido adiposo usada para isolar CTAs é o subcutâneo coletado do abdômen, coxa, quadril ou nádegas, geralmente durante procedimentos cirúrgicos plásticos.


O potencial terapêutico das CTAs é vasto. Elas têm sido estudadas e aplicadas em diversas áreas médicas, incluindo ortopedia, dermatologia, medicina estética e neurologia. Muitos estudos têm mostrado a eficácia da terapia com as CTAs e com as substâncias secretadas por essas células em inúmeras doenças como: cardiovasculares, doença do enxerto contra hospedeiro (GvHD), distúrbios autoimunes como a doença de Crohn, lúpus eritematoso sistêmico (LES) e esclerose múltipla bem como lesões óssea e osteoartrite.


O transplante de CTAs é capaz de proporcionar benefícios em diferentes aplicações:


- Estética: a administração de CTAs melhora os resultados do enxerto de gordura em humanos, especialmente na reconstrução mamária, reconstrução facial e aplicações de cirurgia estética. Isso se deve principalmente à capacidade das CTAs de se diferenciarem em células endoteliais e epiteliais, bem como secretar substâncias que promovem melhora na vascularização e cicatrização de feridas. Atualmente, a cirurgia estética representa a maior demanda por CTAs, principalmente em transplantes autólogos (feitos com células do próprio indivíduo), com a reconstrução mamária e o rejuvenescimento facial sendo as aplicações mais populares. A reconstrução de gordura é geralmente usada em reparos de tecidos moles faciais e para reconstruir tecidos submetidos a tratamentos oncológicos cirúrgicos. No entanto, a taxa de sucesso dos transplantes de gordura varia entre os pacientes, sendo que um dos desafios é a reabsorção da gordura, a qual reduz o volume total dos enxertos em 20-70%. Estudos mostram que com a utilização de uma gordura tratada, que contenha uma quantidade significativa de CTAs, há redução da reabsorção.



- Doenças cardiovasculares: as CTAs demonstraram mediar melhorias após o infarto do miocárdio por meio de seus efeitos anti-inflamatórios, de aumento de vascularização e diminuição de morte celular. Essas células também contribuem inibindo a fibrose, recrutando outras células-tronco presentes no próprio local da lesão e estimulando sua diferenciação em células da linhagem cardiovascular.



- Defeitos ósseos: o tecido ósseo possui uma capacidade inerente de se reparar e regenerar; no entanto, se a lesão for muito grande, essa capacidade fica limitada e são necessários enxertos. Assim, o transplante de CTAs juntamente com biomateriais é capaz de auxiliar essa recuperação, uma vez que essas células podem ser diferenciadas posteriormente em células ósseas.



- Regeneração de cartilagem: em geral, a cartilagem tem um potencial limitado de regeneração. Entre os diferentes tipos de cartilagem, a cartilagem articular é o alvo mais comum da terapia, sendo as lesões articulares e a osteoartrite (OA) os principais focos da medicina regenerativa. Ensaios clínicos utilizando transplantes autólogos e alogênicos (células obtidas de doadores) de CTAs, assim como substâncias secretadas pelas CTAs para tratar a osteoartrite do joelho foram relatados como bem tolerados, proporcionando resultados positivos na redução da dor, diminuição da rigidez e aumento da função física, sem efeitos colaterais graves.



- Lesão na medula óssea: embora a maioria dos relatórios sobre o uso de CTAs para tratar lesões na medula espinhal tenha sido realizada em modelos animais, ensaios clínicos em humanos estão em andamento. Em modelos animais foram obtidas melhoras nas funções motoras e na proteção neuronal e vascular nos grupos tratados com CTAs. Alguns estudos de caso utilizando CTAs em pacientes humanos com lesão na medula espinhal apresentaram resultados positivos. Embora não tenham sido observadas diferenças nas áreas de danos na medula espinhal, alguns pacientes apresentaram uma melhora na pontuação em avaliações motoras e sensoriais, sem efeitos adversos.



- COVID-19: as CTAs são conhecidas por seu potencial imunomodulador potente, e, além disso, as células-tronco mesenquimais de diversas fontes têm se mostrado eficazes em prejudicar a replicação viral e reduzir a carga viral. Com base nisso, os pesquisadores estão atualmente investigando a possibilidade de utilizar CTAs para tratar pacientes infectados com COVID-19. As complicações principais da infecção por COVID-19 incluem danos nos tecidos pulmonares, inflamação excessiva e progressão da fibrose pulmonar. Alguns estudos clínicos demonstraram a capacidade das CTAs de reduzir a inflamação e ajudar na reparação dos tecidos danificados.



Em resumo, os tratamentos utilizando CTAs representam um avanço fundamental na medicina regenerativa, oferecendo possibilidades significativas para o tratamento de uma variedade de condições médicas. À medida que a pesquisa continua avançando, o potencial terapêutico das CTAs parece ilimitado. Estamos testemunhando uma revolução que está abrindo novos horizontes no tratamento de diversas doenças e lesões. O acompanhamento contínuo de pesquisas e descobertas nesse campo pode oferecer uma visão mais clara sobre como o uso dessas células está moldando o futuro da medicina.



Referência:


Artigo com mais informações sobre células-tronco do tecido adiposo: 

Adipose Stem Cells in Regenerative Medicine: Looking Forward