As células-tronco derivadas do periósteo são uma alternativa inovadora para a regeneração óssea em comparação com os enxertos ósseos autólogos. Essas células apresentam versatilidade e eficácia na diferenciação em osteoblastos, condroblastos e adipócitos, podendo ser obtidas de forma menos invasiva do que as células da medula óssea. Estudos recentes apontam suas aplicações odontológicas e ortopédicas, mostrando resultados positivos em redução de perda de tecido ósseo e em regeneração óssea
Defeitos ósseos podem ser resultado da perda óssea, trauma, tumores ou deformidades congênitas e frequentemente necessitam de enxerto ósseo como principal opção de tratamento. O enxerto ósseo autólogo, ou seja, com osso proveniente do próprio paciente, embora ainda seja muito utilizado, possui limitações como baixa disponibilidade e possíveis infecções no local receptor. Uma solução alternativa seria o uso de células-tronco mesenquimais (CTMs), que podem ser derivadas de diferentes fontes no corpo, incluindo medula óssea. No entanto, a coleta de medula óssea não é simples de ser realizada. Nesse contexto, os pesquisadores têm voltado sua atenção para CTMs que possam ser obtidas de fontes mais acessíveis.
Um local do organismo que contém CTMs é o periósteo do palato (ou “céu da boca”). O periósteo, uma membrana que reveste a superfície externa de todos os ossos, exceto as superfícies articulares, constitui uma fonte rica de CTMs com potencial terapêutico significativo. Essas células apresentam capacidade de se diferenciar em diversos tipos celulares, incluindo osteoblastos (células formadoras de osso), condroblastos (células cartilaginosas) e adipócitos (células de gordura). Essa versatilidade as torna fundamentais na regeneração de tecidos ósseos e cartilaginosos. Essas células desempenham um papel fundamental no desenvolvimento ósseo e na cicatrização de fraturas.
O processo para obtenção das CTMs do periósteo do palato é menos invasivo do que a extração de células-tronco de medula óssea, por exemplo, e por isso torna-se uma alternativa interessante. Basicamente, é feita uma biópsia do tecido do palato duro por meio de um bisturi circular com 3 mm de diâmetro, nas proximidades da região dos pré-molares superiores. Uma das vantagens deste protocolo cirúrgico é a ausência da realização de suturas, devido ao tamanho mínimo de incisão. Eventualmente pode haver sangramento, mas ele pode ser facilmente interrompido por uma breve compressão com gaze estéril.
Várias pesquisas têm demonstrado o potencial osteogênico de células derivadas do periósteo. O potencial osteogênico de células da medula óssea, osso alveolar e periósteo foi testado em um modelo animal canino e constatou-se que as células do periósteo demonstraram o maior potencial para a regeneração óssea do que as outras células. Além disso, outros estudos mostraram a capacidade das CTMs derivadas do periósteo em regenerar defeitos ósseos causados por processo inflamatório em tecidos em torno de implantes orais de titânio.
Em estudos recentes, cientistas têm explorado o potencial das células-tronco de periósteo no tratamento de condições odontológicas e ortopédicas, como fraturas ósseas, osteoartrite e defeitos no osso maxilar. A capacidade dessas células de contribuir para a formação de ossos novos e reparo de tecidos danificados oferece perspectivas promissoras para o desenvolvimento de terapias inovadoras e superação de desafios clínicos complexos.
Um estudo realizado em 2016 mostrou que, em pacientes com extração dental de molares que receberam tratamento de colágeno juntamente com células do periósteo, houve uma perda menor de tecido e o processo de ossificação foi muito mais rápido em comparação com pacientes tratados somente com colágeno. Em um estudo de 2012, foram obtidos resultados satisfatórios, mesmo em casos de perda óssea avançada, com o uso de células-tronco derivadas do periósteo - essas células ofereceram formação e remodelação óssea com resultados bem-sucedidos, permitindo a redução da quantidade de enxerto ósseo, se usado como complemento às células. Isso torna o procedimento menos invasivo, uma vez que é possível dispensar completamente o uso de enxerto ósseo se forem utilizadas matrizes de colágeno em seu lugar. Além disso, o periósteo é livremente acessível através da camada superficial da cavidade oral ao longo de toda a vida, o que configura uma vantagem importante.
Além do contexto ortopédico, as células-tronco de periósteo também têm mostrado potencial em aplicações mais amplas, incluindo regeneração de tecidos em outras áreas do corpo. Contudo, é importante destacar que, apesar do entusiasmo em torno das células-tronco de periósteo, ainda há desafios a serem superados. Questões relacionadas à padronização dos métodos de isolamento, expansão e diferenciação das células-tronco ainda precisam ser abordadas para garantir a consistência e a eficácia dessas terapias.
Em conclusão, as células-tronco de periósteo estão rapidamente se tornando uma peça fundamental no quebra-cabeça da medicina regenerativa. Seu potencial de transformar o tratamento de condições ortopédicas e outras condições médicas abre uma janela fascinante para o futuro da saúde. À medida que a pesquisa avança, podemos esperar que essas células desempenhem um papel cada vez mais importante na busca por abordagens inovadoras e eficazes para enfrentar desafios de saúde complexos.
Referências:
Revisão bibliográfica sobre o potencial das células-tronco presentes na cavidade oral para regeneração óssea:
Artigo sobre método de extração de periósteo do palato e isolamento de células-tronco:
Artigo sobre uso de células-tronco do periósteo em medicina regenerativa: