Terapia celular para a Doença de Parkinson: hidrogéis melhoram a sobrevivência e a maturação de células transplantadas
26 de Março de 2024 -Escrito por Yasmin Rana de MirandaA doença de Parkinson tem sido objeto de intensa pesquisa na busca por terapias eficazes. Recentemente, neurocientistas da Universidade de Galway, na Irlanda, revelaram uma descoberta empolgante que pode revolucionar a abordagem de regeneração do tecido nervoso para o Parkinson: a utilização de hidrogéis neurotróficos para melhorar a sobrevivência e a maturação das células progenitoras dopaminérgicas, derivadas de células-tronco pluripotentes induzidas, utilizadas no tratamento. O estudo foi realizado em modelos animais e constitui a subida de mais um degrau na busca de um tratamento eficaz para a doença no ser humano
A doença de Parkinson é uma das condições neurodegenerativas mais complexas e desafiadoras enfrentadas pela medicina atual. Caracterizada pela progressiva degeneração das células produtoras de dopamina no cérebro, essa enfermidade afeta a capacidade de controle motor, resultando em sintomas como tremores, rigidez muscular e dificuldades de coordenação. Com uma estimativa de 8.5 milhões de pessoas vivendo com Parkinson em todo o mundo, essa doença exige abordagens inovadoras e eficazes de tratamento.
Nos últimos anos, avanços na medicina regenerativa e na terapia celular abriram novas perspectivas para o tratamento do Parkinson. Uma abordagem promissora para tratar essa condição é a substituição das células danificadas por células saudáveis, utilizando células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs), que podem ser reprogramadas e produzidas a partir de células adultas, como as células da pele. As iPSCs podem, então, ser estimuladas a se diferenciarem em células dopaminérgicas saudáveis, substituindo assim as células danificadas no cérebro dos pacientes.
No entanto, o sucesso dessa abordagem tem sido limitado por desafios significativos, incluindo a baixa sobrevivência e maturação das células transplantadas. É aqui que entram os hidrogéis neurotróficos, uma inovação revolucionária que está mudando o jogo na terapia celular para o Parkinson.
Os hidrogéis neurotróficos são biomateriais injetáveis compostos principalmente de colágeno, que oferecem um ambiente favorável para o crescimento e diferenciação celular. Eles atuam como uma espécie de andaime tridimensional, fornecendo suporte estrutural para as células transplantadas aderirem-se e crescerem, bem como proteção contra a resposta imune do hospedeiro. Além disso, esses hidrogéis são carregados com neurotrofinas, que são fatores de crescimento que promovem a sobrevivência e maturação celular.
Um estudo recente, publicado no Journal of Neural Engineering, realizado por neurocientistas da Universidade de Galway, na Irlanda, demonstrou o potencial transformador dos hidrogéis neurotróficos na terapia celular para o Parkinson. Neste estudo, progenitores dopaminérgicos derivados de iPSCs foram transplantados em ratos que possuem características da Doença de Parkinson. O transplante foi realizado tanto com a presença dos hidrogéis neurotróficos, quanto em sua ausência.
Os resultados foram surpreendentes: as células progenitoras transplantadas juntamente com o hidrogel neurotrófico apresentaram uma melhora significativa na sobrevivência e maturação em comparação com aquelas transplantadas sem o biomaterial. A sobrevivência das células aumentou em até 8 vezes, enquanto a diferenciação dopaminérgica melhorou em até 16 vezes. Esses achados fornecem uma evidência convincente do potencial dos hidrogéis neurotróficos para melhorar os resultados da terapia celular no Parkinson.
A pesquisadora líder do projeto, Eilís Dowd, expressou otimismo em relação ao futuro dessa abordagem, destacando que o desenvolvimento contínuo desses hidrogéis promissores pode levar a melhorias significativas nas estratégias de reparação cerebral para pessoas com Parkinson. O próximo estudo a ser realizado visa entender como o sistema imunológico, no cérebro, reage quando as células são transplantadas sozinhas em comparação a quando são transplantadas em combinação com o hidrogel.
O estudo destaca a importância da colaboração interdisciplinar entre a medicina regenerativa, terapia celular, neurociência e engenharia de biomateriais na busca por tratamentos inovadores e eficazes. Embora mais pesquisas são necessárias para otimizar essa abordagem e traduzi-la para a prática clínica, esses resultados representam um passo importante no caminho para encontrar uma cura para o Parkinson. À medida que continuamos a desvendar os mistérios do Parkinson, a terapia celular e os hidrogéis neurotróficos emergem como ferramentas poderosas que oferecem esperança para milhões de pacientes em todo o mundo.
Referências:
Artigo publicado no Journal of Neural Engineering:
Artigo que comenta sobre o estudo: