Inovação na Terapia Celular: Aprovada a Primeira Terapia Celular para Melanoma Avançado

A recente aprovação pelo FDA da terapia celular Amtagvi (lifileucel) representa um marco significativo na medicina regenerativa e na luta contra o câncer. Pela primeira vez, uma terapia celular foi aprovada para o tratamento de melanoma avançado, sinalizando uma revolução na abordagem terapêutica para esse tipo agressivo de câncer de pele e a possibilidade do desenvolvimento de novos medicamentos para outros tipos de tumores sólidos

O Food and Drug Administration (FDA) – órgão regulatório de saúde pública dos Estados Unidos – proporcionou um marco significativo na medicina regenerativa ao aprovar a primeira terapia celular para o tratamento de melanoma avançado no dia 16 de fevereiro de 2024. Esta conquista promete revolucionar o tratamento de tumores sólidos, abrindo novos caminhos na imunoterapia celular.

O melanoma é uma forma de câncer de pele frequentemente causada pela exposição à luz ultravioleta, que pode vir da luz solar ou do bronzeamento artificial. Esse tipo de tumor é agressivo e pode causar impactos devastadores aos indivíduos afetados, com um risco significativo de propagação para outras áreas do corpo (metástase), podendo ser fatal. Embora os melanomas representem apenas aproximadamente 1% de todos os cânceres de pele, eles são responsáveis por um número significativo de mortes. Até recentemente, as opções terapêuticas para pacientes com melanoma avançado eram limitadas e, muitas vezes, inadequadas para controlar a progressão da doença. No entanto, a aprovação do Amtagvi (lifileucel) oferece uma nova esperança para esses pacientes, prometendo não apenas prolongar a sobrevida, mas também melhorar significativamente a qualidade de vida.

A terapia celular, uma forma de imunoterapia conhecida como terapia com linfócitos infiltrantes de tumor (TIL), representa uma abordagem inovadora para o tratamento do melanoma avançado. Terapias convencionais como radioterapia e quimioterapia visam combater diretamente as células cancerígenas, porém acabam fragilizando o organismo como um todo e trazendo muitos efeitos colaterais. Já a terapia TIL utiliza as próprias células imunológicas do paciente para combater o câncer. As células T são um tipo de linfócito (glóbulo branco) que faz parte do sistema imunológico e geralmente ajuda o corpo a combater infecções. Porém, embora possam ajudar o corpo a combater doenças como o tumor, podem ter dificuldade em diferenciar entre células saudáveis e células cancerígenas. À medida que os tumores crescem, algumas células T reconhecem estas células como anormais e infiltram-se no tumor – estes são os linfócitos infiltrantes do tumor, ou TILs. Durante a terapia com TIL, parte do tumor é removida cirurgicamente para colher células T que são naturalmente capazes de se infiltrar no câncer. Estas são então ativadas e expandidas (cultivadas em grande número) em laboratório antes de serem reinfundidas no paciente. Isto dá ao paciente mais células T que são mais capazes de reconhecer e atacar as células cancerígenas. Até então, as imunoterapias com células T haviam sido predominantemente utilizadas no tratamento de cânceres sanguíneos, representando um desafio técnico significativo adaptá-las para tumores sólidos.

A pesquisa liderada pelo Royal Marsden, centro de apoio a pacientes com câncer na Inglaterra, em colaboração com outros centros em todo o mundo, foi fundamental para o desenvolvimento e aprovação do Amtagvi. Este medicamento é o resultado de décadas de pesquisa e desenvolvimento colaborativo entre cientistas, médicos e pacientes. O ensaio clínico C-144-01, liderado pelo Dr. Andrew Furness, foi fundamental para demonstrar a eficácia e segurança desta promissora terapia celular. Os resultados do estudo mostraram taxas de resposta encorajadoras em pacientes que não responderam a outras formas de tratamento – entre 153 pacientes tratados, mais de um terço responderam bem a este tipo inovador de terapia celular – oferecendo uma nova opção terapêutica para aqueles que esgotaram todas as outras alternativas. Analistas da indústria estimam que até 500 pacientes poderão receber tratamento este ano, o que marca um passo positivo para pacientes com melanoma avançado.

As reações adversas mais comuns associadas ao Amtagvi incluíram calafrios, febre, fadiga, taquicardia (frequência cardíaca anormalmente rápida), diarreia, neutropenia febril (febre associada a um nível baixo de certos glóbulos brancos), edema (inchaço devido ao acúmulo de líquido em tecidos do corpo), erupção cutânea, hipotensão, queda de cabelo, infecção, hipóxia (níveis anormalmente baixos de oxigênio no corpo) e sensação de falta de ar. O Amtagvi pode, ainda, causar contagem sanguínea baixa prolongada e grave, infecção grave, distúrbio cardíaco ou desenvolver piora da função respiratória ou renal ou ter complicações fatais relacionadas ao tratamento. Embora o risco de desenvolvimento desse tipo de reação adversa seja bastante raro, um aviso em caixa está incluído no rótulo contendo informações sobre esses riscos. Os pacientes que recebem este produto devem ser monitorados de perto antes e após a infusão quanto a sinais e sintomas de reações adversas. O tratamento deve ser suspenso ou descontinuado na presença destes sintomas.

Amtagvi foi aprovado através do Programa de Aprovação Acelerada da FDA, que permite que o órgão pode aprove medicamentos para doenças ou condições graves ou potencialmente fatais em que haja uma necessidade médica não atendida. ​Além de sua eficácia, o Amtagvi também representa um avanço significativo no campo da medicina regenerativa. Ao aproveitar o poder do sistema imunológico do próprio paciente, a terapia celular oferece uma abordagem altamente personalizada e adaptável para o tratamento de outros tipos de cânceres sólidos. Essa capacidade de adaptar o tratamento às características únicas de cada paciente é fundamental para maximizar a eficácia terapêutica e minimizar os efeitos colaterais adversos.

No entanto, apesar dos avanços significativos alcançados com o Amtagvi, ainda há desafios a serem superados no campo da terapia celular para o melanoma avançado. Questões como a escalabilidade da produção, a otimização da resposta imune e a identificação de biomarcadores preditivos continuam a ser áreas de pesquisa ativa e desenvolvimento.

Além disso, enquanto a aprovação do Amtagvi pela FDA representa um passo importante, o acesso a essa terapia inovadora continua a ser uma preocupação para muitos pacientes. Os altos custos de desenvolvimento e produção de terapias celulares podem limitar a disponibilidade desses tratamentos para aqueles que mais precisam deles. Portanto, é essencial que continuemos a investir em pesquisa e desenvolvimento na área da terapia celular, ao mesmo tempo em que buscamos maneiras de tornar essas terapias mais acessíveis e amplamente disponíveis para todos os pacientes.

Em suma, a aprovação do Amtagvi marca o início de uma nova era na terapia do melanoma avançado e na medicina regenerativa como um todo. À medida que continuamos a explorar o potencial terapêutico das células TIL e outras formas de terapia celular, podemos esperar avanços ainda mais relevantes no tratamento do câncer e de outras doenças. Este é apenas o começo de uma jornada emocionante rumo a um futuro onde a cura do câncer se torna uma realidade para todos os pacientes.

Referências:

Artigo do FDA sobre a aprovação do Amtagvi: FDA Approves First Cellular Therapy to Treat Patients with Unresectable or Metastatic Melanoma 

Artugo do centro de apoio a pacientes com câncer Royal Marsden sobre a aprovação do Amtagvi: https://www.royalmarsden.org/blog/major-milestone-first-ever-cellular-therapy-solid-tumours-approved 

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